Alma Minha

Escritos e "guardados" que refletem um tempo, uma época, uma alma.

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Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

02 agosto 2006

Achei a primeira parte. Vamos lá:

Um pássaro de metal
Que desce do céu
E suavemente toca a terra
Numa ensolarada manhã de segunda-feira,
Num dia de outono,
Prenúncio de inverno.
Traz em seu bojo
Lembranças que não serão
Esquecidas.
Histórias há tanto tempo
Ditas
E repetidas
E tão melancolicamente
Lembradas
Nas noites escuras de
Inverno
E chuva.
Desce o presente,
Que mais que material
É espiritual
E cheio de encantos
E mistérios
E surpresas.
Como é bom sentir
Na alma
O sorriso de gente
Da terra.
Como é bom saber
Que existem
Tantas almas
Tantas gentes
Tantas coisas
Parecidas
Com aquilo que vivemos
E vivenciamos
Em sonhos,
Nos acalantos da noite,
Nos embalos do verão,
No caminhar de estradas,
No rever velhas fotos,
No beber da cerveja.

Quanta coisa bonita
Aprendemos
Desde o berço;
Quanta coisa ouvimos
Ainda quando nem mesmo
Sabíamos falar;
Quanta coisa trazemos no sangue
E na alma
Que nem mesmo saberíamos contar
Ou dizer
Ou falar.
Sabemos, sim,
Sentir.
O que importa que aqui,
Agora,
Seja noite,
E que lá,
No ponto de partida,
O sol se ponha
Avermelhando os trigais,
Dourando as estepes,
Fazendo reverberar
O mar.
Que importa a distância,
Medida em quilômetros,
E encurtada pelas cartas,
E menos ainda,
Pelo telefone.
Que importa a ausência de notícias,
Quando o mais importante
É descobrir que o ponto de partida
Existe.
Que ele não pode ser demarcado,
Identificado,
Analisado,
Medido,
Referenciado.
Que sua existência é paradoxal
À própria ausência.
Que há o ponto de partida,
Escondido,
Incubado,
Oculto,
Camuflado.
Que sua essência,
Tão bela como a própria Natureza liberta
E ao mesmo tempo tão perigosa
Como o fogo que destrói a própria Natureza,
Está em cada um de nós.
O que é verdadeiramente importante,
É sentir a presença do ponto de partida.
Seja aqui, sentindo a fria brisa da noite.
Seja lá, recebendo no rosto,
Os últimos raios do sol poente.
O que é fundamental
É descobrir no nosso ponto de partida,
A origem,
A verdade maior.
É descobrir a forma
De ultrapassar barreiras,
De ultrapassar
O Tempo
E o Espaço.
De ignorar ideologias partidárias,
De anular convicções religiosas,
De cancelar idiomas estranhos,
Para se descobrir no outro,
No próximo,
No amigo,
O irmão.
O irmão de origem,
O irmão da mesma mãe,
E do mesmo pai.
O irmão que de mãos vazias
Chega.
O irmão que traz no olhar
Todo o sofrimento
De lutas que não são mais suas.
Não por não querê-las,
Mas por não sabê-las.
Não por não assumi-las,
Mas porque não lhe é dado o
Direito
De enfrentá-las.
Não por serem suas,
Mas de seu passado,
De sua terra,
De sua gente.
É maravilho descobrir
No irmão,
O mesmo que somos nós.
É maravilhoso saber
Que existem mais,
Muitos mais
Pontos de partida

28/05/79
19:50h