Alma Minha

Escritos e "guardados" que refletem um tempo, uma época, uma alma.

Minha foto
Nome:
Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

03 agosto 2006

LUCIANA

Sua mãozinha pequena, tão cheia de graça, seu rosto grande, seus olhinhos rasgados e miúdos, seu cabelo – curtinho – eu amo você.

De longe, uma boneca; de perto, um anjo. Sua graça, sem brilho, sem esplendor, mas cheia de encanto, de mistério. E você, com toda sua ingenuidade e amor, com todo o seu jeitinho de olhar, de andar, de falar, com todo o seu carinho, eu amo você.

Sem preconceitos, sem religião, sem raças, sem pai, mãe e irmãos, despida de todos os tais encantos, só, no deserto, eu ainda amo você. Apenas você, que no meu caminho passou; apenas você, que somente passou. Não deixou suas marcas em meu corpo. Suas marcas calaram em minha alma. Sua foto, de beca, sua imagem, lá longe, tão longe, distante, seus olhos amendoados, procuravam alguém na escuridão. Seus olhos não encontraram um par de olhos que correspondesse ao seu olhar angustiado e cheio de medo. E duas lágrimas, quais pequenos rebentos, rolaram pela sua face morena de jambo. E eu também chorei. Seus olhos agora estão lívidos e estão longe; aonde, não sei. Seu olhar se ilumina e encontra não sei o quê, tão longe na sua própria imaginação. E de seus lábios, um sorriso, como uma flor, desabrocha, lindo, puro, e eu também sorria. E seus olhos encontraram os meus, sem angústia, sem desespero, sem medo. E eu sorria. Sua mãozinha tímida estendeu-se, mas você não veio. E eu sorri, você sorria. Sem uma palavra sua mão ficou suspensa no ar. Pareceu-me ouvir de seus lábios um “adeus”. Não, não foi um adeus. Foi um “até logo”. Não, também não foi. E no meio de seu sorriso, de seus olhinhos miúdos, de sua mãozinha esticada, pareceu-me divisar um “tchau”. E você sorria. Um sorriso puro, um sorriso-ternura, um sorriso-carinho, um sorriso-amor. E eu chorei. Enquanto você sorria, eu chorei. E eu apenas amei você, Luciana.

“Escrito” para Luciana, menina de cerca de seis anos, portadora de Síndrome de Down, que mostrou para mim (na época uma pré-adolescente) todo o carinho que pode existir na alma de um ser humano. Não tenho a data desta “escrito”. E a beca se refere à formatura dela no prezinho.