Alma Minha

Escritos e "guardados" que refletem um tempo, uma época, uma alma.

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Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

16 agosto 2006

Na transparência da noite sem lua,
Ela corria de encontro ao silêncio,
Muda,
Surda,
Cega.
Tinha todos os sentidos
Voltados para a busca do infinito,
Não para ver Deus,
Mas para olhar os homens,
Lá de cima,
E era difícil,
Muito difícil.
Seu papel era apenas
Mulher.
A ela, várias portas se fechavam,
Com estrondo,
Com estrépito
Ou então
Silenciosamente,
Furtivamente,
Às suas costas.
Seu silêncio,
Gelado,
Imóvel,
Imutável,
Trazia ares de noite
Transparente,
Negra,
Suspensa.
Seu olhar que não olhava
Para lado nenhum,
Para ninguém,
Para todos ao mesmo tempo
A transformava
Em figura sombria,
Fugidia,
Espectral.
Nada havia no mundo
Que mais quisesse,
Que olhar o próprio mundo,
Lá de cima,
Para avaliar
A verdadeira extensão
De seu mutismo,
De seu silêncio,
De sua solidão.
Ver, de uma vez por todas,
Os homens a se digladiar,
Uns com os outros,
Por um pedaço de pão,
De terra,
Por dinheiro,
Objetos,
Mulheres.
E tudo isto se escondendo
Por trás de virtudes,
Como sobrevivência,
Coragem,
Subsistência,
Privacidade,
Amor.
E tudo isto não passando,
Apenas,
De covardia,
Mesquinhez,
Egoísmo,
Cobiça,
E ódio.
Queria ela ver,
Por sobre todas as nuvens,
Terras,
Águas,
Os homens todos,
Reunidos,
E sendo, ainda,
Solitários.
Mesmo com todos os pães,
Terras,
Dinheiro,
Objetos
E mulheres
Do mundo.
Nada haveria de lhes cobrir
Aquela solidão
Que a alma sente.
A solidão do estômago,
Do ego,
Das facilidades,
Do supérfluo,
Do corpo.
Tudo estaria perfeitamente arranjado.

Mas quem irá grudar
O adesivo na alma?
Seria bom ver de cima
E olhar cá pra baixo
Os homens imersos em seus
Pequenos mundos,
Recheados de falsidades,
E egoísmo.

Só então ela poderia compreender
O porquê de toda esta angústia,
De todos estes pontos de interrogação,
Que crivam a vida impiedosamente,
De toda esta sensação de mal-estar,
Presente no ar poluído do dia-a-dia,
De todos os sorrisos falsos
Que turvam os caminhos.

Na transparência da noite
Ela corre em busca
Do significado mais fundo
De existir.

19/07/78

1 Comments:

Blogger HENRIETTE said...

Você tá demorando pra escrever, heim? Manda bala aí! Feliz Ano Novo, Blog Novo!

9:15 PM  

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